HOMENS CHORAM

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“Jesus chorou.” (João 11.35)

Semana passada, nessa onda do Facebook de desafiar os amigos a lerem um trecho da Bíblia em 24 horas, meu amigo Rodrigo Ribeiro que me desafiou, compartilhou uma breve reflexão com base nesse curto versículo de João. Segundo ele, incialmente era só uma brincadeira, já que esse é o menor versículo da Bíblia. Entretanto, aquele pequeno vídeo de menos de 2 minutos me fez refletir bastante acerca de uma série de coisas.

Rodrigo falou que o fato de Jesus ter chorado traz uma série de implicações para a forma como interpretamos um simples ditado como esse que diz que “homens não choram”. Segundo ele, se isso for verdade, então Jesus não era homem e se Ele não era homem então Ele não pôde nos salvar e hoje caminhamos para o inferno. Mas se Jesus de fato era homem e chorou, então esse é um sinal de que verdadeiros homens choram. Isso pode ser visto apenas como uma brincadeira, como pretendia Rodrigo, porém, a meu ver, revela alguns pontos muito importantes da nossa cultura, os quais são errados e devem se submeter ao senhorio de Cristo.

Hoje, temos vivido um período de efeminização da cultura, na qual os homens tem falhado em cumprir o seu papel de líderes e estão ficando cada vez mais apáticos diante das mulheres, as quais tem seguido a sua tendência pecaminosa de serem como Evas e tem se rebelado contra o seu papel inicial de serem auxiliadoras idôneas. Isso tem produzido homens fracos e fragilizados, inseguros de quem são, exatamente como pretendia o feminismo. Ao mesmo tempo em que tem gerado mulheres frustradas, exatamente por fazerem o que não lhes competem.

Em meio a toda essa confusão de gênero, a Igreja tem se levantado como uma força contra-cultural, pregando o complementarismo e a diversidade dos papeis de gênero na família e sociedade. Esse blog mesmo, principalmente essa seção, são exemplos claros disso. Isso é algo muito importante e se eu não pensasse assim, com certeza não estaria escrevendo aqui. Entretanto, muitas vezes temo que a Igreja e até mesmo eu, em nossa luta contra o pecado da apatia dos homens e insubmissão das mulheres, criemos padrões de masculinidade e feminilidade que não são bíblicos, mas simplesmente conservadores e por isso visto como corretos.

É compreensível que contra a fragilidade e inércia dos homens, projetemos o ideal de que o homem cristão, o “macho bíblico” deve ser um cara durão e insensível, machista mesmo. É como se não houvesse espaço para emoções e os homens realmente não pudessem chorar. É como se o verdadeiro homem fosse aquele que gosta de esportes e automóveis e tivesse o tempo todo que “provar” o seu sexo. Essa é uma visão que não condiz mais com a nossa sociedade que está cada vez mais confusa sexualmente. Contudo, isso tem se tornado cada vez mais forte na Igreja. Há um artigo escrito por uma mãe cristã americana que eu achei muito interessante e até traduzi para o blog da UMP da Quarta¹. Nele ela expressa os temores que sente de que um dia um de seus filhos fique à margem na Igreja Reformada por ser diferente dos demais garotos da sua idade, por ser um pouco mais sensível e preferir escrever poemas a jogar bola com os irmãos. Em suas palavras:

“O nosso mundo após a Suprema Corte derrubar o Ato de Defesa do Casamento parece estar bem distante daqueles padrões Edwardianos de masculinidade baseados em partidas de rugby. Mas eu me preocupo que um padrão estreito similar esteja ganhando popularidade entre os Cristãos. Ao se levantarem contra a névoa que obscurece o gênero e a sexualidade, característica do nosso mundo hoje, cristãos podem inconscientemente requerer de nossos jovens que provem eles mesmos se são homens ou mulheres. Eu tenho medo que a comunidade conservadora cristã não tenha mais espaço para jovens que são diferentes, para o garoto poeta e a garota atleta. Isso seria uma grande perda.”

Eu não pude deixar de me identificar com as preocupações dessa mãe e ao mesmo tempo ser confrontado por ela. Eu sempre fui um garoto que nunca se encaixou muito nos moldes de masculinidade perfeita da sociedade. Eu nunca gostei de esportes e detestava fazer atividades físicas. Por outro lado, gostava muito de literatura e passava horas lendo. Aquele volume único de “As Crônicas de Nárnia” foi de fato um grande companheiro meu durante a infância! Eu nunca havia tido problemas com isso, mas ao perceber os estragos que o feminismo tem feito em minha geração e os meus papeis como homem de acordo com a Bíblia, confesso que senti-me como se eu estivesse de certa forma abaixo de um determinado padrão. Ninguém nunca me falou isso, mas eu me percebia assim. É como se estar disposto a trabalhar a fim de construir uma família para glória de Deus e em envolver com a pregação do Evangelho na sociedade e na Igreja não fosse o suficiente para que eu me torna-se um homem de acordo coma Bíblia. Daí comecei a projetar em mim mesmo uma imagem de masculinidade que era tudo, machista, de direita, conservadora, reacionária… menos bíblica.

Entretanto, tudo isso começou a mudar quando passei a olhar para a vida de Jesus e ver o que a Norma Braga chama mais ou menos de “masculinidade equilibrada”. Ele foi o único homem totalmente perfeito que existiu na Terra e ainda assim chorou! Ao olhar para Jesus pude ver que ele era um homem corajoso que não tinha medo de defender a verdade e ir contra a hipocrisia dos fariseus de sua época. Ele não temia aqueles que poderiam simplesmente matar o seu corpo, mas não a sua alma. Essa é uma grande característica de todos os principais homens da Bíblia que prefiguram Cristo (Noé, José, Davi, Daniel, Paulo…) e deve também ser uma característica que nós como homens cristãos devemos demonstrar. Muitas vezes não é fácil defender o Evangelho em um ambiente hostil como uma universidade brasileira dominada pelo Marxismo, mas creio que a pregação do Evangelho é uma tarefa que foi designada primeiramente aos homens na Bíblia (no Antigo Testamento não haviam “sacerdotisas” e Jesus não ordenou “apóstolas”) e por isso sei que esse é um dever que tenho como homem. É algo que me requer coragem e firmeza e que nem sempre é fácil, mas toda vez que faço isso me sinto tão homem quanto Jesus foi.

Por outro lado, Jesus apesar de corajoso, foi também um homem sensível. Sensível ao sofrimento e às necessidades das pessoas que o cercavam, sobretudo os mais fracos. Os Evangelhos relatam que diversas vezes Jesus se compadeceu das multidões que caminhavam para o inferno, tratou com amor e carinho pessoas marginalizadas pela sociedade de sua época, como uma mulher adúltera e inúmeros cegos, aleijados e leprosos. Mas ele também chorou, e o fez ao saber que um grande amigo havia morrido. Ao fazer isso, Jesus simplesmente não mostrou que homens choram, mas deixou claro o motivo do choro deles: a sensibilidade ao sofrimento do próximo, a perda de um amigo, a angústia de ver pessoas caminhando a passos largos para o inferno. Sinto-me homem como Jesus quando olho para o sofrimento dos meus amigos e choro com eles e por eles. Choro também quando penso nos 7.000 povos que nunca ouviram falar do Evangelho e hoje estão condenados. Choro quando penso nas mulheres e crianças vítimas do tráfico humano e mais uma vez sinto-me homem como Jesus por agir assim.

Homens, Jesus foi o único homem perfeito que já existiu na Terra. É Ele quem devemos seguir. É com Ele que devemos parecer. Por isso, se Ele foi firme, também devemos ser. Se Ele chorou, também podemos chorar. Não importa o que a nossa sociedade ou até mesmo nós achamos que é a verdadeira masculinidade. Nós só precisamos ser homens de acordo com a Bíblia. Nós só precisamos ser homens como Jesus foi. Isso é o suficiente. Precisamos ser firmes e corajosos, mas também podemos chorar.

1 http://ump-da-quarta.blogspot.com.br/2014/02/prove-seu-sexo.html

Igor Sabino
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