REFLEXÕES SOBRE A CULPA

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A princípio parece ser apenas algo que existe à nossa vista. A culpa se disfarça de consequência a todo aquele que infringe alguma regra prévia. Alguém que paga impostos, que não desrespeita as leis, que não põe em cheque a sua sobriedade e a dos outros parece ser alguém sem culpa. Em outras palavras, a culpa parece ser algo que existe apenas à nossa vista.

Não estamos habituados a conviver com a culpa. Em geral, costumamos: viver como se esta não existisse; reconhecer sua existência, sempre nos distanciando dela em nossos discursos; ou reconhecer sua existência e nos dirigirmos a ela como escravos. Onde está a culpa? E o que ela é?

Podemos refletir acerca de dois textos e, assim, enxergá-la como ela é, quais sejam:
“Todos pecaram e carecem da Glória de Deus” (Rm 3:23)
“Ninguém afirme ser tentado por Deus, pois cada um é tentado pela própria concupiscência” (Tg 1: 13, 14)

À vista de Tiago 1: 13, 14; por exemplo, depreende-se que nós temos culpa de sucumbir às nossas próprias tentações, sabendo que cada vez que nos sentimos tentados a pecar, não o somos pelo que Deus é, mas pela nossa natureza. Outra coisa que podemos absorver dessa leitura é, portanto, que Deus não tem culpa, não sente culpa, e, assim, não é como nós somos. E existe uma causa de nós não sermos como Deus. É isso que nos evidencia o texto em Romanos 3:23. Pecado. Nós pecamos. E, por termos pecado, nós carecemos da Glória de Deus. Nós não somos como Deus, nós somos pecadores. A partir de Adão, nós temos pecado, e, por termos pecado, nós temos culpa.

Assim fica inquestionável a associação de culpa e pecado. É fácil entender porque Deus não tem culpa alguma. Não é fácil admitir que temos toda a culpa. Só existe culpa em nós. A culpa é a repercussão humana do pecado, e ela está em todo lugar onde está o pecado.

Encontramos, agora, nosso problema com a culpa. Ela torna inútil as nossas tentativas de definir essência por reputação, justiça por conforto e santidade por inerrância, para os pecadores. Se nascemos com pecados, nascemos com culpa, e, até que sejamos submissos ao que traz a Escritura, só conseguiremos nos reportar a ela sob três olhares:

– CEGUEIRA: Viveremos como se ela não existisse. Como uma criança inocente, sucumbiremos a qualquer de nossas vontades sem levar em consideração se aquele valor, aquela ideia ou aquela ação agrada a Deus, agindo sinceramente e sem malícia, mas irrefutavelmente com culpa.
– REPULSA: Viveremos consciente de sua existência e implicações. Portanto, resolveremos lidar com ela impulsionando-a para longe dos nossos discursos, evitando falar sobre a sua realidade. Fornecendo justificativas para todo pensamento ou atitude que fizer aparentar a existência da culpa como algo relacionado a nós mesmo.
– AUTOCOMISERAÇÃO: Uma vez conscientes da culpa diante de Deus, viveremos irremediavelmente tristes, reconhecendo a existência e o tamanho da culpa, mas frustrados com a impossibilidade de desvincular a culpa de nós por esforços que possamos fazer. De tanto tentar anular a culpa, seremos vencidos por exaustão.

Quanto à culpa, irmãos, não podemos negar a sua realidade. Ela existe e está tão perto de nós, quanto mais nos conhecermos. Ela é real como a nossa mente, vil como um veneno e hostil como um pesadelo. Se temos culpa, não há sofrimento em nós que a diminua, nem há sofrimento a nós, pecadores, que seja injusto.

Permita-me, agora, contar sobre Jesus de Nazaré, o filho do carpinteiro, o Sol da Justiça.

Ele é Aquele que nasceu em berço pobre e cresceu até se tornar grande como nenhum homem jamais conseguiu. Foi menino, jovem e adulto e em todas essas etapas foi maior do que todos. Jesus Cristo curou enfermos, ressuscitou mortos, levantou Pedro quando este vacilou na fé ao andar sobre as águas. Ele multiplicou o vinho num casamento, curou no sábado, combateu os que vilipendiavam o Evangelho ao fazerem da casa de Deus um mercado, Ele orou, teve fome e sede, teve solidão, foi traído com um beijo, foi negociado por Judas, apanhou, foi crucificado, humilhado, ridicularizado em público, suou sangue, foi ferido com uma lança. Jesus chorou.

O que sabemos sobre Jesus é suficiente para nos mostrar que Ele sofreu muito ao longo de sua jornada. E Jesus sofreu. Ele sofreu a Ira de um Deus Santo, Santo, Santo. Mas sendo cem por cento Deus, jamais teve comunhão com o pecado. Portanto, irmão, Jesus não tem nenhuma culpa. De todos os sofrimentos pelos quais Ele passou, Ele jamais sofreu em sua mente e seu corpo pela sua própria culpa. Completamente diferente de nós, que queremos evitar todo e qualquer sofrimento secundário à culpa, que é intrínseca a nós, mas que nós insistimos em negar.

Isaias 53 nós afirma que Ele ofereceu a “Oferta pela culpa”. A oferta, portanto, não é puramente para satisfazer a Ira Divina. Sendo cem por cento homem e cem por cento Deus, Ele sofreu com a culpa, que Ele deliberadamente tomou para Si, no momento em que Deus o permitiu se sentir sozinho no Calvário. Desta forma, em Cristo, e SÓ EM CRISTO, não precisamos de justificativas, porque Ele executa justificação mediante a Fé em seu sacrifício. Deveremos viver conscientes da nossa culpa, mas olhando fixamente para o sacrifício de Jesus, para aprendermos com Ele a sermos mansos e humildes de coração, enquanto aprendemos sobre santidade e salvação.

Confessemos nossas culpas, carreguemos nossa cruz, sigamos a Cristo, tenhamos esperança para Eternidade e, quer comamos, quer bebamos ou façamos qualquer outra coisa, seja pra a Glória dAquele que tomou para si a nossa culpa e nos amou. Só então viveremos em paz.

“Se olho para mim, me deprimo. Quando olho para os outros, me iludo. Quando olho para as circunstâncias, me desencorajo. Mas quando olho para Cristo, me completo.” (Steven Lawson)

 

Lucas Silveira

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