Arrependimento é necessário!

O evangelicalismo atual tem tirado muitas doutrinas fundamentais para a fé cristã dos púlpitos das igrejas.  Com o intuito de se agradar ao ouvinte, termina-se ferindo a pregação genuína do verdadeiro evangelho e mutilando as verdades fundamentais. Entre elas, a doutrina esquecida entre os pastores é a do arrependimento. A rejeição dessa doutrina é resumida muito bem em uma frase do Rev. Josemar Bessa: O que queremos é pecar sem culpa, e então criamos uma nação de vítimas. As pessoas não querem se se sentir culpadas diante de seus pecados, e tentam apagar sua culpa, tentam jogar no lixo essa doutrina fundamental. Portanto, decidi trazer um trecho de um livro do puritano Thomas Watson em que ele fala sobre como o arrependimento é necessário. Segue o texto:

Humilhemo-nos profundamente e lamentemo-nos diante do Senhor pelo pecado original. Perdemos aquela “quintessencial” disposição de alma que uma vez tivemos. A nossa natureza está viciada na corrupção. O pecado original difundiu-se como um veneno no homem todo, como a alcachofra de Jerusalém que, onde quer que for plantada, logo infesta o terreno. Não há natureza alguma no inferno pior que a nossa. Os corações dos melhores seres humanos são como o lençol no qual havia muitos répteis imundos (atos 10:12). É preciso ter toda a cautela possível com essa corrupção primitiva, porque nunca estamos livres dela. É como uma fonte subterrânea que, embora não se possa ver, todavia ainda flui. Poderíamos deter os impulsos para o pecado se pudéssemos deter as pulsações vitais do nosso corpo.

Esta depravação ingênita nos retarda e nos tolhe naquilo que é espiritual: “não faço o bem que quero” (Romanos 7:19). O pecado original pode ser comparado com o peixe de que fala Plínio, uma lampareia marinha que se gruda aos montes no casco dos navios e dificulta sua largada quando içam velas. O pecado também se pendura em nós e com seu peso nos faz ir muito devagar para o céu. Ó, essa aderência ao pecado! Paulo sacudiu a víbora que se pendurou em sua mão e a lançou no fogo (Atos 28:5), mas nesta existência não podemos sacudir a corrupção original e lança-la fora. O pecado não vem alojar-se em nós por uma noite, mas vem como morador permanente: “o pecado que habita em mim” (Romanos 7:17). Ele fica conosco como se fosse com ares, ainda assim leva a febre dentro de si. O pecado original é inesgotável. Não se pode esvaziar este oceano. Ainda que se gaste todo o estoque de pecado, ele não diminui nem um pouco. Quanto mais pecamos, mais somos do pecado. O pecado é como o azeite da viúva que aumentava à medida que era vertido.

Outra cunha que parte os nossos corações é que o pecado original se mistura com os próprios hábitos de graça. Isso explica por que os nossos movimentos em nossa marcha para o céu são tão lerdos e frouxos. Por que a fé não age mais forte ou agilmente senão porque calça os tamancos dos sentimentos – um verdadeiro estorvo! Por que o amor a Deus não se inflama com maior pureza senão porque é dificultado pela luxúria? O pecado original incorpora-se em nossas graças. Pulmões enfermos causam asma ou respiração curta, como també o pecado original, tendo infeccionado o nosso coração, faz com que as nossas graças respirem debilmente. Dessa forma vemos o que em nosso pecado original, pode fazer brotar nossas lágrimas.

Em particular, lamentemos a corrupção da nossa vontade e dos nossos sentimentos. Choremos a corrupção da vontade e dos nossos sentimentos.  A vontade, não seguindo o ditame da reta razão, é induzida ao mal. A vontade não gosta de Deus, não no que Ele é bom, mas no que Ele é santo. Ela O afronta com contumácia: “certamente cumpriremos toda a palvra que saiu da nossa boca, queimando incenso à rainha dos céus” (Jeremias 44:17). A maior ferida causada pelo pecado foi feita em nossa vontade.

Lamentemos os extravios dos nossos sentimentos. Eles são desviados do seu objetivo próprio. Os sentimentos como setas mal lançadas, atingem um ponto próximo do alvo. No princípio, os nossos sentimentos eram asas que nos faziam voar para Deus; agora são pesos que nos puxam para longe dEle.

Lamentemos a inclinação dos nossos sentimentos. O nosso amor é posto no pecado, a nossa alegria, na criatura. Os nossos sentimentos, como certas aves bonitas da Inglaterra, alimentam-se de esterco. Com que justiça o destempero dos nossos sentimentos podem ter um papel na cena da nossa tristeza? Por nos mesmos já estamos caindo no inferno, e os nossos sentimentos nos atiram lá.

Tenhamos em mente os pecados concretos. Destes posso eu dizer: “Quem pode entender os próprios erros?” (Salmo 19:12). Eles são como átomos no sol, como chispas de uma fornalha. Temos pecado com os nossos olhos; eles têm sido postigos que deixam entrar a vaidade. Temos pecado com nossas línguas; elas têm se inflamado de paixão. Que ato procede de nós no qual não descobrimos algum pecado? Não há como contar nossos pecados, pois seria como contar as gotas do oceano. Tratemos de arrepender-nos seriamente dos nossos pecados fatuais diante do Senhor.

Lucas Dantas

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Watson, Thomas. A Doutrina do Arrependimento. São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2012, p. 98-101.

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