AS TENTAÇÕES E O CAMINHO DA SANTIFICAÇÃO

9a04ac11-213e-448d-88bd-676431eacd3d.JPG

Charles Haddon Spurgeon, notável pregador batista, “o último dos puritanos”, certa feita enunciou: “Jovens, vocês precisam orar, porque suas paixões são fortes e sua sabedoria é pouca”. Assim, sejamos unívocos e dolorosamente honestos nesta breve reflexão acerca de umas das questões que mais merecem atenção na juventude e em toda a vida cristã: as tentações.

Tiago nos alerta que quem se sente, em alguma situação, tentado, o sente pela sua própria concupiscência, pela própria paixão (Tg 1:14).  Aqui, é possível entender a tentação como algo que parte de nós. Ou como algo que é parte de nós. Somos tentados por sermos vis. Somos tentados a não nos submetermos às ordenanças objetivas de Deus Pai. Queremos ser nosso próprio deus. E isso reforça a ideia de que precisamos nos posicionar com responsabilidade e sobriedade acerca da nossa natureza pecaminosa.

Não cabe, portanto, a ideia de que todas as vezes em que sentimos algo, ou vontade de realizar algo contrário à vontade de Deus, estejamos sendo alvejados por iniciativas exclusivas de satanás. Nós mesmos temos plena capacidade de instigarmos nosso corpo e nossa mente a sucumbir às tentações, na medida em que o nosso coração é caído e carente da Glória de Deus (Rm 3:23). Chega de atribuir toda má iniciativa a satanás. Na verdade, Paulo, escrevendo aos Efésios, nos encoraja a sermos ativos em não dar lugar ao diabo (Ef 4:27). O exercício da santificação inclui reconhecer a própria natureza pecaminosa, admitir que não é possível agradar a Deus por meio das próprias atitudes, mortificar a carne, obedecer aos Decretos inequívocos de Deus e combater o pecado, nunca se render a ele. E mais importante, não procurar meios de justificá-los, quando cometidos, quando se sucumbe a alguma tentação.

Esta, na verdade, é uma outra tentação: tendo algum de nós sido fraco e caído em alguma tentação, procurar, primeiro na própria mente, depois diante dos homens, possíveis razões que possam justificar a nossa queda.  Algum discurso que faça a nossa culpa passar desapercebida, algo que torne, sutilmente, o (nosso) pecado algo banal e aceitável. A vontade de Deus pode ser conhecida na medida em que a Sua Palavra é tida como referência absoluta e sua prática acontece de forma resoluta. E a Palavra nos instiga a fazer o oposto: confessarmos nossos erros, experimentarmos o arrependimento e prosseguirmos combatendo a nossa própria natureza. Aquele que quiser ir após Cristo, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e, só então, siga-o (Lc 9:23).

Não há razões para nosso pecado ser justificável, pelos nossos meios, em se levando em consideração que Deus é Perfeito, três vezes Santo. Não há uma só fagulha de erro e imprecisão em Sua Natureza. Assim, não é possível que algo como o pecado seja, em qualquer hipótese, aceitável. Na verdade, só é possível que em muitos momentos nós acreditemos que nossos erros não são “tão maus assim” porque nós insistimos que nossas convicções sejam mais precisas que as descritas na Escritura, ou quando a sociedade (da qual somos parte) trata um pecado como “normal”, ou quando fazemos algo igualmente nocivo: comparamos a situação pecaminosa vivenciada com outro pecado cometido por outrem, que tenha tido repercussão social mais negativa. É como alguém que explica não considerar errado fornicar porque é hábito comum nos dias de hoje, embora a Bíblia o condene explicitamente. É Como alguém que recebeu um troco errado e não devolveu, mas se vê melhor do que alguém que cometeu adultério, visto que estes dois episódios lamentáveis têm repercussões diferentes diante dos homens. Para Deus, ambos pecaram e alimentaram Sua Ira. Precisam de perdão.

Experimentamos de um sentimento de orgulho que facilmente nos domina. A ideia de que somos falíveis, na verdade, nos atemoriza e nos paralisa. Admitir que não somos suficientes não é algo que chama a atenção. A ideia de que somos suficientemente bons é mais atrativa, mas pecaminosa. Especialmente se consideramos que por “sermos” assim, bons, e realizarmos boas obras, poderemos nos dirigir a Deus como alguém que não tem do que se arrepender. Esta é outra tentação.

O caminho da santificação, entretanto, é a porta estreita à qual Cristo se refere em Mateus 7:13, mas a cronologia funciona de maneira oposto ao que queremos pensar. Se fazemos algo essencialmente bom, contrariamos as nossas concupiscências e podemos conviver com a certeza de que, para tanto, o próprio Deus interviu em nossa vida, através do Espírito Santo, mas como algo que o próprio Deus Pai realiza (Tg 1:17). O caminho da santificação é percorrido dolorosamente na medida em que o cristão experimenta da vontade de O seguir. E este só sente esta nova inclinação, uma vez chamado e tendo ouvido a voz do Seu Mestre. O Caminho da santificação é novo, é novidade de vida. É a esperança para aquele que pôde parar e se analisar, encontrando, paradoxais, caos e prepotência. O caminho da santificação é obra do Espírito Santo, e, ante as nossas tentações, Ele (Deus) mesmo se encarrega de dobrar nossos joelhos para que venhamos a orar como seja conveniente. Por esta razão, se você se sente tentado e se sente incomodado por isso, saiba que alguém o despertou para as verdades da Vontade de Deus. À queda, segue-se a confissão, porque para um regenerado, é inútil se esconder do seu Senhor. À confissão, segue-se o arrependimento pois o fato de ter, novamente, tropeçado, é algo que entristece o coração do pecador que Deus chamou. Ao arrependimento, segue-se o combate ao pecado, se houver, então, a vontade de percorrer o caminho da santificação. Mas esta vontade, irmão, uma vez existente, trará a nossas vidas frutos dignos de arrependimento (Mt 3:8). E se esta vontade existir, ela irá imperar e nos confrontar todos os dias e a todos os momentos.

Não dá para fugir da realidade de que para toda obra agradável a Deus é Ele quem opera tanto o querer, quanto o realizar (Fp 2:13). Se o faz através de nossas vidas, queremos o que Ele quer, efetuamos o que Ele decreta, e isso é motivo de alegria e regozijo, mas também de temor e de submissão. Ele é Santo, Santo, Santo. Podemos ser constantemente tentados, e sabemos que nosso inimigo anda ao derredor, como alerta Pedro, mas podemos nos achegar confiantemente ao Trono da Graça, como instrui Paulo, confiantes de que somos completamente falíveis e questionáveis, mas Ele é Infalível e inquestionável.

Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito. Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, também chamou; aos que chamou, também justificou; aos que justificou, também glorificou. Que diremos, pois, diante dessas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?

(Romanos 8:28-31)

Só assim nossos pecados estão justificados: mediante a fé no sacrifício de Jesus Cristo. Só assim somos perdoados e só assim viveremos em paz. Não sendo orgulhosos, mas percorrendo o doloroso, mas providencial caminho da Santificação.

Soli Deo Gloria.

Lucas Silveira Sousa (@lucasilveiras)

Deixe um comentário